Sunday, April 26, 2009

Oralidade e escrita, Saberes discordantes?

O presente artigo surge como continuidade do post anterior sobre Educação versus escolarização, mas desta feita pretendo levantar a questão de um outro jeito. Geralmente as pessoas quando são introduzidas ao contexto escolar levam consigo alguns saberes apreendidos mediante a sua socialização. Porém, quando chegam a escola são como que desarreigados dos seus conhecimentos e submetidos a uma nova ordem da qual o professor é o agente, uma vez que tudo por ele dito está correcto.

Algumas crianças aprendem a contar e a explicar coisas na sua língua materna, que pode não ser necessariamente a língua Portuguesa, mas chegadas a escola são terminantemente proibidas de expressar-se nas suas línguas maternas.

O ponto que pretendo levantar tem a ver com o facto de enaltecer-se os saberes da escrita em detrimento dos saberes orais. Sabe-se que África é um continente em que há grande predomínio da tradição oral, que tem estado a ser relegada para último plano. Como conferir muita primazia a escrita num País em que o grosso da população é não escolarizada? Não tenho algo contra a escolarização, porque até tive a oportunidade de passar por esse processo, mas acho que deve-se atribuir importância a uma grande fonte de saber, que é a oralidade. Concordo que por causa da globalização, que para mim é mais “englobalização” que tenhamos que abrir a porta para alguns processos, mas julgo que acima de tudo temos que saber fazer um casamento entre esses novos processos e os processos mais antigos.

Na minha opinião a oralidade e a escrita não devem ser dissociadas, mas vistas como duas faces do processo educativo.

Sunday, April 5, 2009

Educação versus Escolarização

O presente artigo surge após eu ter lido um artigo do PC Mapengo publicado no blogue do Júlio Mutisse intitulado: “um golo para fintar o destino”. O artigo em causa chamou-me atenção para o facto de muitas vezes confundir-se escolarização e educação.

A escolarização como o próprio nome já indica remete necessariamente para a escola e todos métodos lá utilizados, ao passo que a educação não remete única e necessariamente para a escola como o lugar de excelência, onde são inculcados os cânones sem os quais eles não são reconhecidos como membros de um certo grupo social.

Educar é muito mais que escolarizar, porque segundo o dicionário de língua portuguesa, educação signifca instrução e cortesia e não necessariamente escolarizar como se tem pensado, daí que no quotidiano é frequente ouvir a seguinte frase: “xiii…, fulano nem parece que estudou porque tem atitudes de uma pessoa grunha, guindza e baixa (inculta) ”. O que acontece é que a instrução e a cortesia no meu entender são apriores a escolarização, e como tal elas é que preparam as pessoas para o porvir.
A educação ocorre nas mais diversas instituições porque a escola não é o lugar soberano onde ensina-se ao homem a viver em sociedade, uma vez que a educação em termos gerais visa inserir o homem em sociedade, fazê-lo útil e reconhecido por ela. Os ritos de iniciação, as escolas de futebol, os clubes desportivos e outras instituições de socialização têm a tarefa de educar.

Mercê desse pensamento amplamente divulgado de que a escola é o garante da inserção do indivíduo na sociedade, assistimos à uma crescente azáfama de pessoas que lutam para ingressar no ensino superior no nosso País, porque julgam que somente escolarizadas é que podem ascender socialmente e alcançar reconhecimento por parte dos demais.