Wednesday, October 15, 2008

Rural: localização espacial ou modo de vida?

Este artigo surge no âmbito da comemoração do dia mundial da mulher rural ontem celebrado. Por acaso desconhecia a efeméride, mas o que chamou minha atenção foi o seguinte: o rural se refere ao modo de vida ou à localização espacial?

Parece que a tónica dominante quando se fala de rural é o espaço geográfico "campo" em oposição a urbano e cidade. Na minha opinião, o rural se refere ao modo de vida, tal e qual o urbano é um modo de vida. Existe uma tendência para associar cidade à urbanismo. Entendo por urbanismo um modo de vida que encontra a sua expressão máxima na cidade, mas que também pode ocorrer fora desta. Uma pessoa pode viver num meio tido como rural, mas não pautar por um estilo de vida rural, devido à aquilo que é a sua trajectória de vida, contactos e influências.



Actualmente com a expansão de novos bairros, assistimos à um crescente alastramento do modo de vida urbano para o "meio rural". Pessoas que vivem no "meio rural" mas que passam maior parte do tempo na cidade cada vez mais imersos no modo de vida urbano.

A fronteira entre o urbano e o rural é muito ténue porque os indivíduos oscilam entre os dois contextos. Uma pessoa que vive num distrito que é tido como meio rural e constantemente vai à cidade ou a vila para efectuar algumas transacções económicas, visitar parentes entre outras coisas acaba oscilando entre os dois espaços geográficos e modos de vida.




Outro aspecto que me saltou à vista é o facto de o termo mulheres rurais homogeneizar as trajectórias de vida, escolhas e práticas das mulheres tidas como rurais. Será que elas mesmo se reconhecem como rurais ou se reconhecem somente como seres humanos que têm direito ao livre arbitrío de viver suas vidas e fazer suas escolhas? Quais são os critérios para que elas sejam consideradas mulheres rurais?

O ser humano tem sempre a tendência de fazer taxonomias, categorizar e hierarquizar as coisas e o mundo descurando das dinâmicas, escolhas e práticas que vão ocorrendo na vida dos indivíduos.

10 comments:

Anonymous said...

Lindo, e eu que pensei que fosse "feminista" a mocambicana?

Anonymous said...

Engana-se meu caro anónimo. Não me assumo como feminista, apenas reflicto sobre assuntos que acho pertinentes. Já agora o que é para si uma feminista? Talvez seja na sua perspectiva de uma pessoa feminista.

Obrigada,

Nyikiwa

Anonymous said...

Sabe que nem sei o que e ser feminista mesmo, vi um dos seus comentarios no blog da Ximbitane na qual dizia terem lhe apelidado de 'feminista'.

Anonymous said...

(Em Moçambique as mulheres rurais vão aproveitar a ocasião para entregar ao Governo uma declaração, na qual apontam as suas preocupações e apelam a uma melhoria das suas condições de vida e de trabalho.) http://www.tvm.co.mz/content/view/1140/77/. As mulheres rurais analfabetas vao escrever uma declaracao... uhmmm...

Anonymous said...

kEstá a ver nem? Uma das características atribuídas às mulheres rurais é o facto de serem analfabetas. Como é que pessoas que são analfabetas têm legitimidade para escrever uma declaração. Logo, alguém escreverá por elas nessa ordem de ideias. O que coloco é que devemos procurar entender os processos e pessoas e não catalogá-las em coisas nas quais talvez não se reconheçam.

Obrigada,
Nyikiwa

Yndongah said...

Olá Nyikiwa,

Belo texto este, achei interessante distinção que fazes entre os conceitos de campo, cidade, rural e urbano, que a meu ver precisam ser “reconstruídos”, em virtude das mudanças nos modos de vida em cada um desses espaços físicos.

Bjnhs

Anonymous said...

Cara Yndongah,

Muito obrigada pelo seu comentário! De facto precisamos reformular os conceitos, porque a realidade é dinâmica e os conceitos nada mais são do que um modelo de leitura e análise da realidade. Pelo que à medida que esta se transforma os conceitos têm que lê-la cabalmente.

Cumprimentos,

Nyikiwa

Ximbitane said...

Irmã, também fiquei a par da efemeride agora, tal como tu. Aliada a data, como nao podia deixar de ser, colou-se um encontro de grande envergadura onde o assunto da mulher rural será debatido pela mulher urbanizada posto que as primeiras são meras espectadoras.Há coisas que eu realmente nao entendo!

umBhalane said...

Conheci o seu blogue, através do Diário de um Sociólogo, 2008-10-15.

Só não comentei de imediato para escrever as usuais trivialidades, importantes sem dúvida – de pequenas coisas se faz o mundo, e a felicidade – mas não.

Hesitei. Não por dúvidas.

Mas porque constatei imediatamente que o que escreve faz pensar, repensar, reciclar pensamentos, actualiza-los, enfim…exercita a massa cinzenta.

Isto porque está a escolher temas que me despertam atenção, e mostra que afinal na blogosfera há sempre caminhos novos para trilhar – a criatividade é possível, e desejável.

Os meus parabéns, e fique sabendo que entendo que comentar no seu espaço é, por isso, um acto de responsabilidade.

Simplesmente porque ele a isso obriga.

O maior êxito.

Anonymous said...

Caro Umbhalane,

Muito obrigada pela sua visita e comentários ao meu blog.